Nader and Semin – A Separation foi o grande vencedor do Festival de Berlim 2011. O júri da 61ª edição do certame, presidido pela actriz Isabella Rossellini, deu ao filme do iraniano Asghar Farhadi o Urso de Ouro para Melhor Filme e os Ursos de Prata para Melhor Actriz e Melhor Actor. Estes últimos, caso raro no festival, foram atribuídos não a actores específicos, mas sim ao conjunto dos elencos masculino e feminino.
Num palmarés que Rossellini disse ter sido relativamente unânime, The Turin Horse, do cineasta húngaro Béla Tarr, recebeu o Grande Prémio do Júri, e o Urso de Prata de Melhor Realizador foi atribuído ao alemão Ulrich Köhler por Sleeping Sickness.
O prémio de melhor argumento coube a The Forgiveness of Blood, sobre dois adolescentes apanhados num feudo de sangue, rodado na Albânia pelo americano Joshua Marston, e o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística foi entregue, ex-aequo, a Wojciech Staron e Bárbara Enríquez, director de fotografia e cenógrafa de El Premio, de Paula Markovitch.
O segundo filme alemão a concurso, If Not Us, Who, de Andres Veiel, recebeu o Prémio Alfred Bauer, assim chamado em homenagem ao crítico fundador do festival e atribuído a um filme que abra “novas perspectivas ao cinema moderno”.
Nader and Semin estabelecera-se desde logo como favorito da imprensa presente, e poucos duvidavam que o filme acabaria no palmarés, sobretudo no ano em que a homenagem da Berlinale ao cineasta iraniano encarcerado Jafar Panahi chamou a atenção do mundo.
A história de um casal de classe média de Teerão que entra em processo de divórcio quando o marido começa a pôr em causa a decisão de emigrar, e das consequências que essa decisão tem não só no casal e na sua filha como naqueles à sua volta, foi considerada pelos vários painéis de jornalistas alemães e internacionais como o melhor filme do festival – embora muito raramente essa distinção se reflicta na escolha do júri, o que tornou a “sintonia” de opiniões particularmente notável este ano.
No entanto, a vitória apanhou de surpresa o próprio director do filme. Nos seus agradecimentos, Asghar Farhadi, que já vencera o Urso de Prata de Melhor Realizador em 2009 por About Elly, confessou que, depois dos galardões atribuídos ao elenco, não contava receber o prémio principal do certame.
Já o Grande Prémio do Júri a The Turin Horse pode ser lido como uma homenagem ao veterano húngaro Béla Tarr, figura dominante do cinema de autor europeu que anunciou ser este filme, uma radical meditação audiovisual sobre a morte, o seu testamento cinematográfico. The Turin Horseera o outro favorito da crítica para o Urso de Ouro, mas a sua austeridade e ousadia formal tornavam-no numa escolha pouco provável, sobretudo face ao pendor político ou histórico que a competição 2011 mostrou ter e à tradição do certame dar o prémio máximo a filmes com um olhar sobre a realidade contemporânea. [publico.pt]