"Tabu" na selecção oficial ao lado de Brillante Mendoza ou Zhang Yimou. Mas o "Tabu" do realizador de "Aquele Querido Mês de Agosto" pode ganhar o prémio supremo do festival.
Se outra razão não houvesse para prestar atenção à 62.ª edição do Festival de Cinema de Berlim, iniciada na quinta-feira com a habitual gala de inauguração (a cargo de "Les Adieux à la Reine" do francês Benoît Jacquot) e que hoje arranca "a sério", haveria esta: um filme português está na competição oficial de longas-metragens, pela primeira vez, desde 1999. E não é um filme qualquer: é "Tabu", a nova e sumptuosa longa-metragem de Miguel Gomes, o autor de "Aquele Querido Mês de Agosto", uma história a preto e branco que evoca e invoca ao mesmo tempo a presença portuguesa em África e o cinema clássico, navegando entre a Lisboa dos nossos dias e os anos de 1960 no sopé do Monte Tabu. A primeira de cinco exibições é na terça-feira, às 19h30 no palácio do festival.
Não é a única produção portuguesa nas competições nobres do certame alemão: João Salaviza, depois da Palma de Ouro das Curtas em Cannes com "Arena", mostra a sua nova curta, "Rafa" (menos abstracta, mais distendida que Arena) na selecção competitiva de curtas-metragens do festival, com quatro passagens (a primeira das quais na tarde de sábado). ("Should the Wife Confess?", curta de Bernardo Camisão que esteve em Vila do Conde 2011, é mostrada na secção paralela Culinary Cinema).
Mas as atenções viram-se forçosamente para "Tabu", por ser o sucessor do fenómeno "Aquele Querido Mês de Agosto", filme que viajou por todo o mundo com uma recepção entusiástica, e por ser a primeira vez que a competição de Berlim recebe uma longa portuguesa desde "Glória", de Manuela Viegas, em 1999. O filme de Miguel Gomes está assim em liça para o prémio máximo do festival, o Urso de Ouro (atribuído o ano passado ao iraniano Asghar Farhadi por "Uma Separação").
Outros candidatos são, por exemplo, o novo filme do filipino Brillante Mendoza: "Captive", que marca o encontro do cineasta de "Lola" e "Kinatay", que até aqui trabalhara apenas com a "prata da casa" do seu país, com uma actriz de primeira grandeza, Isabelle Huppert. Ou "Bel Ami", adaptação de Maupassant pelos encenadores ingleses Declan Donnellan e Nick Ormerod com Robert Pattinson, Uma Thurman, Kristin Scott Thomas e Christina Ricci. Ou os novos filmes de dois dos mais importantes cineastas alemães contemporâneos, Christian Petzold ("Barbara") e Hans-Christian Schmid ("Was bleibt"). Ou os veteranos irmãos Taviani (de regresso com "Cesare Deve Morire") e Zhang Yimou ("The Flowers of War", superprodução chinesa com o actor inglês Christian Bale no papel principal). E "Shadow Dancer", ficção sobre a Irlanda do Norte do documentarista James Marsh, vencedor do Óscar por "Homem no Arame", só não é porque está fora de concurso. O júri presidido pelo realizador britânico Mike Leigh ("Segredos e Mentiras", "Nu", "Um Ano Mais"), e do qual fazem igualmente parte Asghar Farhadi, o fotógrafo e realizador Anton Corbijn, a actriz Charlotte Gainsbourg ou o actor Jake Gyllenhaal, parece ter tido sorte com a selecção 2012. [publico.pt]