António Ferreira
[Lisboa, 1528 - 1569]
É considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa, conhecido como "o Horácio português; é contemporâneo e discípulo mais destacado do poeta Sá de Miranda; destacou-se na elegia, na epístola, nas odes e no teatro]
Aquela nunca vista formosura,
Aquela viva graça e doce riso,
Humilde gravidade e alto aviso,
Mais divina que humana real brandura
Aquela alma inocente e sábia e pura
Que entre nós cá fazia um paraíso,
Ante os olhos a trago e lá a diviso
No céu triunfar da morte e sepultura.
Pois por quem choro, triste? Por quem chamo
Sobre esta pedra dura a meus gemidos
Que nem me pode ouvir nem me responde?
Meus suspiros nos céus sejam ouvidos;
E enquanto a clara vista se me esconde,
Seu despojo, amarei, amei e amo.
António Ferreira
in “Poemas Lusitanos”