Fernando da Silva Campos (n. Águas Santas, Maia, 23 de Abril de 1924) é um escritor português.
Filho do pintor Alberto da Silva Campos, frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Filologia Clássica. Foi professor do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, e é autor de várias obras didácticas e monografias de investigação etimológica e literária, como a antologia Prosadores Religiosos do Século XVI (Coimbra, 1950), A Redacção (orientação e exercícios) (Porto, 1968), O Arinteiro de el-Rei ou A "Vida de S. Teotónio", uma Fonte de Os Lusíadas? (Lisboa, 1972).
Estreou-se como ficcionista aos 62 anos com o romance histórico A Casa do Pó (1986), cuja acção decorre em finais do século XVI e conta a história das peregrinações de Frei Pantaleão de Aveiro (autor do Itinerário da Terra Santa, publicado em 1593), traçando um panorama da cristandade ocidental e oriental. O livro, muito bem recebido pelo público e pela crítica, levou-lhe 11 anos a preparar e colocou-o de imediato entre os grandes escritores portugueses. [ler mais]
«Ravengar»: Um filme mudo recriado por Fernando Campos
Fernando Campos, 88 anos, autor de «A Casa do Pó» (1986) - agora reeditado -, traz-nos um texto de homenagem à linguagem cinematográfica com «Ravengar», publicado pela Alfaguara. Tal como quem ensaia um guião antes da estreia do espectáculo, aqui está um livro que pede uma reunião de amigos ou família. Cada um terá o seu papel, até os espectadores. Prepare-se para viajar até ao ano de 1917, uma altura em que os jornais publicavam folhetins de novelas que eram recortados diariamente e colados de maneira a formar um álbum.
Conta Fernando Campos, nascido na Maia (Porto) e licenciado em Filologia Clássica, que o seu avô materno, a sua avó e as duas filhas, Raquel e Fernanda, chegaram ao Rio de Janeiro em 1914, pouco antes da Primeira Guerra Mundial. Nessa altura, era popular o vespertino «A Noite», jornal fundado em 1911 e que explorava reportagens policiais, factos da cidade e acontecimentos desportivos. Com a ditadura e censura, o jornal fechou em 1940-1941 e emergiu O Globo.
Na altura, estava na moda o folhetim. E o jornal A Noite publicou em 52 números a novela de um filme mudo que estava a ser exibido nos cinemas Pathé e Ideal. O título do folhetim era «Ravengar». Quanto ao filme, trata-se de «The Shielding Shadow». No elenco constavam Grace Darmond (no papel de Leontine: Jessie Walcott), Ralph Kellard (Jerry Carson aka Ravengar: Harry Price), Léon Bary (Sebastian Navarro: Juan Navarros), Madlaine Traverse (Bárbara: Bianca), Lionel Braham («the bouncer»: Big Bang), Frankie Mann (a cantora de cabaret: Muriel Mason), Leslie King («one lump Loui: Malcor, o Zarolho), Hallen Mostyn e Madeline Francine.
Realizado por Louis J. Gasnier, o filme foi rodado em 1916 e teve estreia mundial em 1917. Segundo o autor, deve ter sido nesse ano que Raquel e Fernanda viram o filme no Rio de Janeiro ou em Petrópolis. Em Portugal, foi exibido pela primeira vez a 6 de Junho de 1918.
Contava com 15 episódios, 9.000 metros de filme, 30 bobinas - duas por cada episódio -, a preto e branco, formato 1.3 : 1 e formato negativo 35 mm.
Fernando Campos, que ainda hoje conserva religiosamente o volume de recortes, foi pesquisando várias fontes para reconstituir o argumento. Nesse processo, descobriu que no romance «Hugo», de Arnold Bennet, há um personagem que se chama Ravengar e que uma telenovela brasileira produzida pela TV Globo em 1989 tinha um actor, António Abujamra, que fez o papel do «misterioso e sinistro feiticeiro Ravengar». Todavia, este bruxo nada tem a ver com a personagem do filme nem do folhetim, sublinha Fernando Campos.
Na leitura das notas do autor descobre-se que Raquel e Fernanda (Raquel viria a tornar-se a tia do escritor e Fernanda a sua mãe) recortavam todos os dias o folhetim de A Noite e colavam-no de maneira a fazer um livro. Muito velhinho, quase a desfazer-se, que hoje Fernando Campos conserva «como uma relíquia». [diariodigital.pt]
Títulos disponíveis na biblioteca municipal.