Parades & Changes, obra cimeira de 1965 da coreógrafa Anna Halprin, põe a nu o processo, o lugar, a acção e o próprio performer. Baseada na improvisação estruturada e na utilização de partituras (scores) como utensílios de criação e de escrita coreográfica, a peça desenvolve uma série de ‘paradas’ que atravessam o espaço teatral e joga com acções do quotidiano alteradas, corpos sonoros, viagens de objectos, temporalidades distendidas e sensorialidades múltiplas.
Em diálogo com Anna Halprin, Anne Collod e um grupo de coreógrafos/performers actualizam os múltiplos cenários desta obra aberta. Propõem em "Parades & Changes, Replays" uma reinterpretação extensiva que permite ao público descobrir a dimensão total da peça que esteve interdita durante vinte anos nos Estados Unidos devido ao uso da nudez. O vigor e a espantosa frescura desta recriação, que reactiva alguns dos questionamentos mais actuais, restituem com intensidade a obra de Anna Halprin ao lugar crucial que lhe pertence na dança e na performance.
Uma reinterpretação de Parades & Changes, peça de Anna Halprin criada em colaboração com Morton Subotnick (1965).[serralves.pt]
Depois da Tate Modern, em Londres, e do Museu Guggenheim, de Bilbao, chega agora ao Museu de Arte Contemporânea de Serralves a retrospectiva dedicada ao escultor espanhol Juan Munõz.
Muito ligado ao Porto e considerado um dos mais relevantes escultores dos últimos vinte anos, Munõz tem assim a sua primeira exposição em Serralves, não obstante ter sido um dos artistas que, desde a origem, mais acompanhou todo o projecto de construção do museu.
A muito próxima relação de amizade existente entre o então director do museu, Vicente Todoli, e o actual, João Fernandes, acabou por ser um obstáculo à presença da obra de Munõz em Serralves.
Um dos traços mais marcantes de Munõz passou pela coragem de trabalhar a figura humana numa altura em que a figuração em escultura não era bem vista.
O escultor madrileno assumiu mesmo uma ruptura com os padrões estabelecidos num certo contexto da arte contemporânea e construiu uma nova teatralidade no modo como passou a ser percepcionada a obra pelo espectador.
Juan Munõz começou muito cedo a expor em Portugal, país com cuja cultura manteve sempre uma relação muito particular, ao ponto de ter em Herberto Hélder, que lia em português, um dos seus poetas de cabeceira.
Manteve sempre uma relação de afecto com o Porto e foi nesta cidade que projectou alguns dos sues últimos trabalhos. Em 2001, no âmbito da Capital Europeia da Cultura, foi convidado a conceber uma escultura para ser colocada num local público. Nasceu assim o trabalho "13 a rirem uns dos outros", agora instalado no Jardim da Cordoaria, e oferecido por Munõz à cidade.
O Museu de Serralves vai organizar todas as semanas visitas guiadas àquelas esculturas. A retrospectiva estará patente ao público até 18 de Janeiro e seguirá depois para o Museu Reina Sofia, em Madrid.
Juan Muñoz morreu subitamente em 2001, aos 48 anos de idade, na sua casa de Verão, em Ibiza. [expresso.pt]